Completando 100 anos de vida, senhor Victor Candado recebe homenagem dos filhos

Senhor Victor Candado. Foto: Divulgação

Não é fácil contabilizar em nossa mente todo o movimento realizado pela natureza e pela humanidade no período de cem anos. Aliás, ninguém liga muito pra isso. Mas quando nos deparamos com pessoas ainda vivas em nosso meio e que nasceram antes que muitas transformações ocorressem, pessoas centenárias que estão há mais de um século nesse planeta ... é de se admirar. Como podemos imaginar, essas pessoas viram o mundo de uma maneira muito diferente de como conhecemos hoje.

É nesse contexto que celebramos nesse ano o centenário do personagem caarapoense Victor Candado.

Nascido em 12 de abril de 1921, na região de Ponta Porã, no então Estado de Mato Grosso, Victor Candado foi casado com Gregória Martines Candado por 58 anos, desde 1957, quando faleceu em 14/05/2015, por complicações de uma cirurgia do coração. Tiveram oito filhos: Adão, Apolinário, Anastácio, Eva, Polinária, Reginaldo, Bernarda e Júlio César. Porém, seus filhos mais velhos são Eudócio e Maurício, frutos de seu primeiro casamento. Sua geração conta atualmente com 32 netos, 28 bisnetos e uma tataraneta.

Descendente de família mista paraguaia e espanhola, Victor Candado é o 3º dos quinze filhos de Euzébio Candado (Dom Candado, como era conhecido pela sua origem espanhola) e Cirila Mareco, casal pioneiro da região do “Vale da Esperança”, nossa querida Caarapó, que na língua Tupy Guarani significa “Raiz da Erva Mate” (caa: erva mate e rapo: raiz), terra da erva mate, como era conhecida no início de sua povoação. Atualmente, restam apenas 03 (três) filhos vivos desta primeira geração: Dn. Delfina Candado (86), Dn. Amância Candado (91) e Victor Candado (100).

Aos 12 anos de idade teve seu primeiro emprego serrando madeiras com uma enorme serra de duas extremidades manuseada por duas pessoas, aprendendo assim o oficio de carpinteiro. Também foi cerqueiro, abridor de picadas e ervateiro (oficio de seu pai Dom Euzébio) ou “mineiro” como eram conhecidos os que trabalhavam na extração da erva-mate, na época da Cia. Mate Laranjeira, onde aprendeu todo o processo de ser um bom ervateiro: desde o plantio, colheita e seu benefício.

Por volta de 1928, a família saiu da Fazenda Campanário (sede da Cia. Mate Laranjeira), viajando dias e dias a pé até Santa Luzia, hoje município de Juti/MS, passando depois pela Fazenda São Luiz, mudando-se enfim em 1935 para Caarapó, passando a morar num sítio adquirido por seu pai. "Trabalhei em muitos mutirões em Caarapó”, afirma Victor, que foi um dos pioneiros da cidade.

Sua irmã Delfina lembrou de que quando Caarapó ainda não oferecia serviços funerários, era comum que seus parentes, vizinhos e amigos lhe pedissem a construção de caixões e cruzes, em virtude de sua habilidade em lidar com a madeira, sempre de forma voluntária.

As dificuldades de sustentar a família o levaram a trabalhar em fazendas distantes, região próxima à Amambai, no ofício de carpinteiro, construindo casas, cercas de arame farpado e “mangueiras” (currais), sempre no trabalho manual, pesado e extenuante. Teve acesso a escola já adulto, somente após todos os filhos alfabetizados, cursando o antigo Mobral.

Homem muito religioso, de muita fé e coerente com seus princípios de amizade e companheirismo. “Homem que foi e que trabalhou e que se dedicou, construiu, criou a filharada, de uma história maravilhosa”. Destacou Pe. Teodoro Benitez[1], ao homenageá-lo pelo seu centenário. “Falar do karay Candado é falar de uma pessoa espetacular. Uma pessoa internacional, da fronteira. Homem trabalhador, de uma história que se confunde com os ervais, com a fronteira, com Caarapó e com toda essa região”.

Um andarilho por excelência, era muito comum vê-lo caminhar pelos “quatro cantos da cidade” visitando parentes, amigos e os doentes nos hospitais. Por esse motivo, recebeu a missão de ser Ministro da Eucaristia, função essa que desempenhava com muito orgulho e satisfação, uma de suas tarefas prediletas do cotidiano, conforme bem lembrado pelo Pe. Teodoro: “um homem da caminhada, que caminha aquele Caarapó, que visita os doentes, que está presente na vida e na história de cada pessoa dessa região. Como não homenagear, como não agradecer a Deus por conhecê-lo. Como não agradecer a Deus pela sua história”.

Com a idade já avançada, vieram os problemas de saúde, comuns para sua idade, como o Alzheimer e seus terríveis sintomas, como a demência. As caminhadas ficaram bem menos frequentes, com a necessidade de alguém para acompanhá-lo, o que não era tarefa fácil. Nessas caminhadas era comum ouvi-lo dizer em sua língua materna, o guarani, “ymaguare ka’aguy memete ko caarapope” (antigamente era tudo mato nesse Caarapó).

Por sua vez, Pe. Adriano Van de Ven (SVD) destacou que “é uma benção de Deus! Poucas pessoas chegam a esta idade. Tu mereces e muito mais”. Disse ainda que, no período em que esteve como pároco em Caarapó/MS, “sempre o admirava como pessoa íntegra e como verdadeiro cristão, membro da comunidade de Nossa Senhora de Caacupê na Vila Setenta. Era tão bom te encontrar com teu jeito simpático, paraguaio e brasileiro. Tu sabes cativar as pessoas. Desejo-te ainda muitos anos de vida. Que o dia 12 de abril seja um dia abençoado para ti e inesquecível, rodeado por teus filhos, netos e bisnetos e por teus muitos amigos! Que o Deus da vida te continue protegendo e abençoando!

Em 10 de dezembro de 2015, Victor Candado recebeu o Título de Cidadão Honorário de Caarapó/MS, nos termos do Decreto Legislativo nº 070/2015 de 02/12/2015, pela sua valiosa contribuição social, política, cultural e artística à sociedade caarapoense.

Senhor Victor Candado sempre foi uma referência de coragem, humildade, sabedoria e simplicidade para sua família, amigos e vizinhos. Nas palavras de Pe. Teodoro, “Karay guassu, ñandejara ha tupasy tanderovasa, toyko nendive” (Grande homem, que Deus e Nossa Senhora te abençoe e esteja sempre contigo).

Parabéns Karaí Candado!! Karaí Mbaretê!! Muitas Felicidades!! Que Deus continue abençoando e iluminando sua vida e de toda sua grande família.